A Praça João Lisboa fica situada em frente ao Convento
do Carmo, sendo originalmente denominada e conhecida, por conta dessa
proximidade, de Largo do Carmo.
Claude D'Abbeville, capuchinho francês que veio com a expedição
de Daniel de La Touche construir o sonho da França Equinocial
em terras do Maranhão, e que já havia deixado um precioso
testemunho sobre como era o sítio onde a cidade foi fundada, descreveu
também o aspecto do Largo em seus primórdios: "Junto
ao forte (de São Luís) há uma grande praça
tão cômoda como admirável. Nela se encontram belas
fontes e regatos, que são a alma de uma cidade, existindo também
todas as comodidades desejadas, como paus, pedras, barro
e outros materiais que tornam a construção barata."
A Praça João Lisboa, ou o Largo do Carmo, sempre foi considerada
o centro nervoso da cidade, o termômetro da vida política
e social de São Luís. Nesse local, travou-se em 1643, durante
a ocupação holandesa (1641 a 1644), uma desesperada batalha
entre as tropas invasoras e os portugueses entrincheirados nos muros
do Convento do Carmo. Conta a lenda que, durante a luta, os holandeses
protestantes se viram subitamente cercados e, para escapar, colocaram
sobre a peça de artilharia que dispunham uma imagem de São
João Batista. Contavam, assim, em abrir fogo contra as fileiras
inimigas e não sofrerem revide, já que para os portugueses,
católicos, seria um pecado mortal atirar contra a estátua
de um santo. Deu-se, então, um milagre: ao primeiro tiro do canhão
holandês, a peça espedaçou-se completamente, matando
toda sua guarnição.
Foi no antigo Largo do Carmo que funcionou a primeira feira da cidade.
Foi ali também o local onde esteve fixado por muitos anos o Pelourinho
de São Luís, destruído quando da Abolição
da Escravatura, ocorrida em maio de 1888. Esse monumento desaparecido
consistia numa coluna de mármore de cerca de doze metros de altura,
finamente trabalhada em feixes espiralados que partiam de uma base composta
de três quadrados sobrepostos até o capitel, onde figurava
um globo e onde era exibido o aparelho punitivo, colocado de maneira
a que o supliciado pudesse ser girado de um lado para o outro e tivesse
melhor exibido o seu castigo aos transeuntes.
Já mais recentemente, entre os anos de 1910 a 1923, funcionou
nas imediações do Largo o jornal A Pacotilha, um dos mais
influentes e mais bem escritos diários maranhenses de todos os
tempo - e não era para menos, tendo à sua disposição
colaboradores do naipe de Antonio Lobo, fundador da Academia Maranhense
de Letras, e de Aluísio de Azevedo, autor de O Mulato, entre tantos
outros.
Originalmente, a Praça João Lisboa era um local mais densamente
arborizado e, portanto, mais aprazível. Devido ao crescimento
populacional de São Luís, e da inevitável demanda
por espaço para a circulação de veículos,
sua área primitiva foi sensivelmente reduzida ao longo dos anos,
tendo sido desmembrada em dois logradouros quase distintos. O trecho
compreendido entre a Rua Grande e a Rua da Paz permaneceu sendo chamado
pela população por Largo do Carmo. Já o segundo
trecho, compreendido entre as ruas da Paz e do Sol, ficou denominado
de João Lisboa a partir de 28 de julho de 1901, por ato da Câmara
Municipal, e numa justa homenagem ao maior jornalista maranhense de todos
os tempos - também um dos mais importantes do Brasil. A estátua
de bronze erigida em sua homenagem é obra do escultor francês
Jean Magrou. Inicialmente, achava-se colocada em frente à Igreja
do Carmo, de onde foi transportada em 1918 para o sítio onde hoje
está assentada.
E é nessa parte da Praça João Lisboa, à sombra
proporcionada por suas árvores frondosas, que todo passeio pelo
centro histórico da cidade merece uma pausa, um descanso regado
a água de coco gelada. Os casarões em torno são
uma atração à parte, oferecendo um contraste interessante
ao evocar a tranquilidade provinciana de outrora com o ritmo acelerado
e o burburinho da São Luís dos dias de hoje.
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